O melhor lugar do mundo
A. A.
de Assis
Nasci
em São Fidélis-RJ. Com 20 anos, mudei para Bauru-SP, onde permaneci durante um
ano e meio. No dia 17 de janeiro de 1955, viajando de jipe em companhia do meu
irmão Luiz, cheguei a Maringá para iniciar vida nova. Paramos em frente ao Bar
Central, na praça hoje denominada Napoleão Moreira da Silva, para tomar um
refrigerante. Lá estava o pioneiríssimo Ângelo Planas, a primeira pessoa a quem
fui apresentado em Maringá. Meu irmão já o conhecia lá de Bauru e lhe disse que
eu estava chegando para morar aqui. Planas me deu um abraço e garantiu:
“Parabéns, menino. Isto aqui vai ser logo a melhor cidade do mundo”. Acreditei
sem reticências. Gamei pela cidade à primeira vista. Virei maringaísta no
primeiro impacto.
Hospedamo-nos no Hotel Esplanada, então
existente na Avenida Duque de Caxias, perto do escritório da Companhia
Melhoramentos. Nunca me esqueci do primeiro banho. Tendo entrado no chuveiro
com o corpo inteiramente coberto pela poeira da estrada, via a água rolando
vermelhinha, uma coisa linda. À noite jantamos na Churrascaria Guarani e na
manhã seguinte, com a cara e a coragem, assumi minhas novas funções: gerente de
uma lojinha de peças de automóveis que meu irmão e um cunhado dele haviam
comprado de um parente. Luiz voltou para Bauru e fiquei morando sozinho numa
casa de madeira nos fundos da loja.
Vim de lugares antigos, encontrei aqui uma
cidade nascendo. Misturou tudo na cabeça: a sensação de que eu havia entrado de
penetra num filme de faroeste; sonhos de rapaz vendo o futuro abrir-se à sua
frente; aquela poeira colorida com cheiro de vida; aquela gente apressada
passando nas ruas com suas botas e chapéus de palha; caminhões puxando madeira;
jipes trotões levantando redemoinhos; de noite o tuque-tuque dos motores de
luz, e eu ali no meio, um fluminense romântico fascinado pela chance de
mergulhar na aventura do pioneirismo.
Villanova era o prefeito, o primeiro do
município, e o pessoal começava a falar em novas eleições. Puxa, que emoção: eu
ajudaria a escolher o segundo prefeito de Maringá. Transferi meu título, votei
no Haroldo. Mas o Américo era um candidato diferente, tocava viola, falava
simplão, arrumava as ruas com sua motoniveladora, ganhou a eleição.
O transporte da maioria era a bicicleta, a
lambreta, ou a circular do Polônio, que de vez em sempre atolava na Avenida
Brasil, obrigando os passageiros a descerem para empurrar. Os mais abonados
rodavam de jipe ou perua. Eu tinha uma monareta.
A diversão durante a semana era ver algum
filme no Cine Maringá ou no Cine Horizonte. No sábado um baile no Aero Clube ou
no Grêmio dos Comerciários. No domingo matinê dançante e em seguida a primeira
sessão do cinema, terminando com a saideira no Bar Colúmbia. Bons tempos.
Primeiros tempos da futura melhor cidade do mundo. Planas tinha razão.
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