MÃE POSTIÇA
A. A. de Assis
Numa reunião de senhoras, foi solicitado que cada uma fizesse a autoapresentação. Uma delas, após dizer seu nome etc., causou impacto ao informar que tinha 122 filhos.
Era uma freira vestida em roupas comuns. Franzina, jeitinho tímido, falando baixinho, explicou: “Sou diretora de um orfanato, portanto mãe postiça de toda aquela criançada que não tem mais suas mães de verdade”.
A mãe postiça (usemos o termo carinhosamente escolhido pela freirinha) exerce intensamente a função maternal, mesmo que jamais tenha gerado um filho. No momento em que assume a responsabilidade de proteger e orientar uma criança ela se realiza em plenitude, a ponto de nem sentir falta da maternidade biológica.
Estão nesse caso não apenas as religiosas que trabalham em instituições de amparo a menores abandonados, mas também todas as mulheres que, geralmente sem terem casado, ajudam a criar irmãos pequenos, sobrinhos e outras crianças, parentes ou não.
Em numerosas famílias existe uma dessas maravilhosas mães postiças. Muitos de nós tivemos uma irmã ou uma tia que completou o zelo de nossa mãe. Eu tive minha Dindinha, minhas filhas e netos tiveram a sua Deda, e é bastante provável que também você tenha tido ou tenha ainda a sua. Quase sempre a mãe postiça acaba sendo mais que mãe. Ela vive para aqueles que se tornaram seus filhos pelo amor. Toda a sua preocupação é com eles. Chora por eles, sorri com eles, vive a vida deles.
É o mistério da maternidade espiritual. A mãe postiça se realiza amando filhos alheios, e com isso prova que ser mãe é muito mais do que simplesmente gerar uma vida.
Aquela freirinha não estava brincando ao dizer que tinha 122 filhos. Ela vivia para todas aquelas crianças. Dedicava a cada uma delas o seu total amor. Era mãe sim. E que mãe!
Pensando nisso, penso também nas filhas ou filhos que dão assistência ao pai ou à mãe velhinhos. Mães ou pais postiços dos próprios pais.
Não é fácil cuidar de idosos. Com o peso dos anos e os incômodos de todos aqueles probleminhas típicos da derradeira idade, os velhinhos da família exigem especial carinho e inesgotável paciência. Se são pessoas de recursos, podem contratar os serviços de cuidadores profissionais ou pagar o internamento em uma casa de repouso. Mas isso sai caro e na maioria dos casos os vovôs e vovós têm que contar mesmo é com alguém de casa.
Além disso, dói no coração deixar o velhinho ou velhinha nas mãos de estranhos. Não basta dar banho, dar os remedinhos na hora certa, empurrar a cadeira de rodas etc. Idosos precisam também de quem lhes dê amor, converse com eles, valorize a presença deles na vida. Algo que só filhos e filhas muito queridos podem proporcionar.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 10.11.22
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