sexta-feira, 1 de maio de 2020

As fontes do Américo

As fontes do Américo

A. A. de Assis

Américo Dias Ferraz, eleito em 1956, foi o segundo prefeito de Maringá. Deixou para as gerações futuras uma imagem um tanto folclórica e a fama de valentão. Prefiro, porém, lembrá-lo como um homem de modesta cultura escolar mas de inteligência acima da média e ideias bastante avançadas em relação à época em que aqui viveu.
Veio de Minas quando Maringá respirava ainda o aroma da mata. Competente negociante, fez fortuna no ramo de beneficiamento de café. Graças à sua simpatia pessoal, foi chamado a disputar a prefeitura. Entrou na campanha 45 dias antes do pleito, comprou uma motoniveladora e saiu de bairro em bairro endireitando as ruas então superesburacadas. Com uma viola em punho, subia aos palanques e atraía multidões. Derrotou sem dificuldade os dois candidatos tidos antes como favoritos: O advogado Haroldo Leon Peres e o médico Gerardo Braga.
Sua administração foi bastante tumultuada. Brigou com a Companhia Melhoramentos, com a Câmara de Vereadores, fez uma série de outras estripulias e acabou perdendo o mandato antes do prazo. Mas o que desejo destacar não é nada disso.
Penso que o que de fato marcou a passagem do Américo pela prefeitura foi sua visão de futuro. A cidade era ainda pouco mais que um vilarejo, sem rua calçada, sem redes de água e esgoto, mas com todo o jeito de lugar destinado a prosperar rapidamente.
O novo prefeito tinha certeza disso e decidiu que era preciso providenciar de imediato um trabalho de embelezamento da urbe. Começou pela construção de uma fonte luminosa na Praça Raposo Tavares. Alguns criticavam, mas vinha gente de longe admirar a novidade.
“Maringá nasceu pra ser uma cabocla bonita”, dizia. E explicava: “Estamos numa localização estratégica, prontos para ser um grande polo. Isto aqui vai ser a grande loja da região. Toda a vizinhança, até as barrancas do Paranazão, virá aqui fazer suas compras, suas operações bancárias, consultar médicos, além de estudar e se divertir. Então temos que enfeitar a ‘loja’, embonitar as ruas e praças e criar o máximo possível de atrações”. 
Dizia mais: “Se a cidade é bela, atrai mais gente. Se atrai mais gente, vende mais. Se vende mais, a prefeitura arrecada mais impostos e assim tem mais recursos para atender melhor a população, fazer mais pelos bairros etc. etc.” Sabia das coisas o homem.
Com esse mesmo espírito, Américo investiu seu próprio dinheiro na montagem de um estabelecimento arrojadamente moderno, o Bar Colúmbia, na Avenida Getúlio Vargas, com tudo “nos trinques do chique”, sem perder em nada para lugares que ele estava acostumado a frequentar em suas viagens ao Rio e São Paulo.
Maringá nasceu mesmo para ser uma “cabocla bonita”. Américo estava certo. Por ser bonita, chique, bem servida de atrativos modernos, ela é hoje a metrópole que a todos encanta. Precisa agora apenas manter a cosmética em dia.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 30-4-2020)
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