sexta-feira, 22 de maio de 2020

Testemunha ocular da história

Testemunha ocular da história
A. A. de Assis

Uma das vantagens de ser velho é ter sido testemunha ocular de um longo período da história (quem se lembra do Repórter Esso?). Especialmente quando se trata da história de um tempo durante o qual o progresso da humanidade deu uma cambalhota completa.
Lucilla e eu nascemos na terceira década do século 20, quando o futuro estava apenas começando. Mas já havia trem (o maria-fumaça); havia automóvel (o fordinho pé-de-bode); havia até avião (o teco-teco). O telefone era acionado com manivela, mas falava; o cinema era em preto e branco, mas já não era mudo; o rádio era chiado, mas dava para ouvir as belas serestas da época; a televisão parecia ainda coisa de ficção cientifica, mas já estava em processo adiantado de invenção.
Quando nasceram nossas filhas, o mundo estava bem mais avançado. A televisão já existia e começava até a transmitir em cores, o telefone falava em DDD e DDI, os aviões voavam a jato, a criançada crescia protegida por múltiplas vacinas e a música vinha gravada em long-playings, tocando Beatles e Rolling Stones, mais aquela turma toda da MPB: Jobim, Vinícius, Gil, Caetano, Vandré, Roberto, Gal, Elis...
Os netos encontraram tudo isso em versão mais moderninha ainda, e ao sair do berço já começavam a mexer com o computador, o celular e mil outras maravilhas lançadas a cada instante no mercado pela tecnologia eletrônica.
Agora já temos três bisnetos. Que será que eles vão ver que nós não vimos ainda? Sabe-se lá quantas novidades os esperam. Inventos fantásticos, certamente. Mas sobretudo sonho para eles um mundo mais justo, mais saudável, mais calmo e mais limpo, onde reinem a paz e a alegria.
Os cinco netos, cada qual na sua vez, pintaram e bordaram com o vô: montaram nas minhas costas, me levaram pra ver desenhos no cinema, lanchar na pizzaria, comprar revistinhas, passear no parque...
Com os bisnetos começou tudo outra vez. Eles inauguraram uma nova edição em nossa família, que começou pequenininha na jovem Maringá dos pioneiros, cresceu, multiplicou-se e hoje é parte de um numeroso clã.
Terão chance de chegar ao século 22, mas nem imagino como será o mundo quando tiverem a idade que tenho agora. Na mobilidade urbana usarão algum equipamento para voo individual. Nas viagens a Nova Iorque ou Paris disporão de aeronaves que farão o percurso em menos de uma hora. Contarão com algum aparelhinho tipo relógio de pulso que lhes permitirá conversar com qualquer falante de qualquer língua... E sabe-se lá mais o quê...
Deus os abençoe e lhes dê uma vida bonita e longa. E que possam ajudar a fazer deste planeta um lugar onde todos disponham de condições para viver felizes.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 21-5-2020)
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