sexta-feira, 19 de março de 2021

Felizardo, um homem feliz

Felizardo, um homem feliz

A. A. de Assis


Faz um bom tempo escrevi um micropoema que dizia assim: “Quem nada / tem tudo. / Somente os peixes, / para salvar-se, / puderam dispensar a Arca”. Mas na verdade houve um coautor: Felizardo Meneguetti. Entusiasta da natação (seu esporte predileto durante a vida inteira), foi ele quem me chamou a atenção para este detalhe deveras interessante: no dilúvio Noé colocou na Arca animais de todas as espécies. Só ficaram de fora os peixes – os únicos que não correriam o risco de morrer afogados. “Quem nada... tem tudo”, dizia ele brincando. 

     Homem de inteligência acima da média, Felizardo era useiro em tiradas como essa. Cada conversa com ele era uma aula de cultura geral. Num certo dia, creio que em 1982 ou 1983, encontrei-o na Avenida Getúlio Vargas, na porta do edifício Três Marias, onde ele tinha um escritório. Pegou no meu braço e intimou: “Vamos dar uma subidinha, que eu quero lhe mostrar uma coisa”. Era um livrão de 500 páginas – “A terceira onda”, best-seller mundial do célebre futurista norte-americano Alvin Toffler. 

     Felizardo estava encantado com a obra, que acabara de ler. “Você precisa ler também, aliás todo mundo deveria ler”, disse ele, e acrescentou: “Leve este; depois compro outro”.

     Toffler recordava a história do progresso, dividindo-a em três ondas: a primeira foi a “revolução agrícola”; a segunda foi a “revolução industrial”; a terceira, que estava começando, seria a “era da Informática”. Porém já previa a quarta onda, que viria logo no comecinho do século 21: a “era da sustentabilidade”, ou seja, da preservação do ambiente.

     Claro que não vou comentar aqui o conteúdo inteiro do livro. Citei apenas para dar aos que não tiveram o privilégio de conviver com Felizardo Meneguetti uma ligeira ideia de quem foi esse extraordinário empreendedor e de sua importância para a história de Maringá. Um homem atento a todos os passos da ciência e da tecnologia e que assim conseguia estar sempre bem avançado no tempo em relação aos mortais comuns.

     Paulista de Quatá, onde nasceu no dia 4 de março de 1925, Felizardo chegou aqui em 1946 e foi um dos megapioneiros presentes na grande festa promovida pela Companhia Melhoramentos no dia 10 de maio de 1947 para a inauguração oficial da cidade.

     Instalados no distrito de Iguatemi, os Meneguetti começaram como agricultores, depois montaram um alambique para fabricação de aguardente e alguns anos após fundaram a Usina de Açúcar Santa Terezinha, da qual por longos anos Felizardo foi diretor presidente.

     Hoje, produzindo açúcar e etanol, a Usina Santa Terezinha é a maior exportadora de açúcar com sede na região Sul e está presente em 12 municípios do Paraná e Mato Grosso do Sul, empregando mais de 8 mil colaboradores.

      Felizardo Meneguetti, patriarca de uma das mais bonitas famílias de Maringá, cidadão benemérito do município, integrante ilustre do Lions Clube e de várias outras entidades, conselheiro de quase todos os nossos líderes políticos, faleceu no dia 19-5-2016, com 91 anos.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 18-3-2021)

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