Poêmica
a palavra
é uma
parábola
1.
É sexta-feira,
véspera da folia.
Lá vai Maria.
Lá vai lavar em lágrimas
a vida ávida de vida,
sofrida vida dividida
em dívidas e dúvidas.
É sábado, é domingo,
é segunda, é terça gorda.
Roda no asfalto o samba,
geme o povo em sobressalto.
Roda rotunda a moça moma,
peitos nus lançando chamas.
Gemem bocas de crianças,
barrigas ocas
mendigando mamas.
Roda impávido o desfile
na avenida multicor.
Gemem pálidos
rostos esquálidos
desfilando a dor.
O sonho roda, geme o horror.
O samba enredo, o medo em roda.
A serpentina, o ser penante.
A passarela, o pária ao lado.
O palanque, a pelanca.
O pandeiro, a pancada.
O sambeiro, o sem-nada.
O tamborim, o camburão.
O saxofone, o saque-sem-fundo.
A fantasia, a mão vazia.
A apoteose, a verminose.
A alegoria, onde a alegria?
O trilo do apito,
o grito do aflito,
o confete, o conflito.
É quarta-feira, cinzas.
Lá vai Maria.
Lavai, Maria.
Lavai o mundo, Maria.
Mundo imundo vasto mundo,
lavai o mundo, Maria!
2.
O
amor fez o
h
o
m
e
m
do barro.
Do barro o homem fez o tijolo
e ao
tijolo
outros
tijolos
juntou.
tijolo
outros
tijolos
juntou.
E fez o m
u
r
o
que do amor o separou.
3.
Tinha o céu e tinha a terra,
tinha o sol e tinha a lua,
tinha as estrelas,
milhares.
Tinha os lagos e as lagoas,
tinha os rios e os riachos,
e os verdes bravios
mares.
Tinha as serras e as colinas,
tinha as selvas e as campinas,
tinha os jardins e os
pomares.
Bichos nas matas correndo,
peixes nas águas brincando,
cantando as aves
nos ares,
e tudo era muito bom.
Deu-se porém que
criados
o homem mais a mulher,
criaram logo o machado,
a foice, o fogo e o veneno,
e pôs-se tudo a perder.
4.
Era o asteca,
era o maia,
era o inca,
o tupi-guarani.
Veio
o branco
a tamanco
no tranco
ser dono
daqui.
Levou
nosso ouro,
levou
nossa prata,
esfolou
nosso couro,
matou
nossa mata.
E ora pô:
despejou
sobre a graça
da terra inocente
e na mente
da gente
a cultura
c
o
c
ô.
5.
Homo
hominis
humus
homem
- homem?
hum mus.
6.
Oh
os homens
os
ho
mens
mo
em-se.
7.
Quantos milanos:
do paraíso
ao luxo/lixo
urb/ânus.
8.
Li-
berdade.
Li
verdade.
9.
Só se é
cidadão
se se é
sócio
do pão.
10.
Na primeira
e na segunda idade
só lhe dão
pancada.
Na terceira
idade,
solidão.
11.
Lá vai o velho
Des-den-ta-do
a esmolar
ex
molar
esmo
lar.
12.
Ave, avós.
Hão de
um dia
devolver
a vós a voz.
13.
Fascinante
ilusão:
um povo
faz-se na ação
e na ação
faz-se nação.
14.
Ser e estar,
ser é estar,
estar
é ser,
estar/
recer.
15.
conômico
Poder é
cô mico.
16.
Que
falta
às vezes )
faz (
o (
c a c h i m b o
da
paz.
17.
Serra serra,
será dor.
Cessa serra,
será flor.
18.
Vai devagar,
irmão.
Melhor que o
cooper
talvez seja a
cooper/ação.
19.
o calouro
o calo
o louro
o ouro
20.
Para
iso > isu > ius > jus
tiça.
21.
terra dá fru
toda terra
dá fru
to da terra
22.
A terra, irmão,
a terra
quer estar casada
com quem
puxando a enxada
lhe empreste
o braço amigo
para produzir
o trigo,
arroz, feijão.
A terra, irmão,
a terra
é generosa,
quer parir fartura.
Porém a terra, irmão,
a terra
é coração,
quer ser amada,
quer calor, ternura.
A terra é fêmea,
quer estar na mão
de quem lhe dê
carinho, ardor, paixão.
A terra é doação.
A terra é fêmea,
irmão.
23.
Abençoada a mão
que empunha a enxada,
a mão que espalha o adubo
e fertiliza o chão.
Abençoada a mão
que afasta a pedra,
a mão que arranca
o espinho,
e faz da terra o ninho
onde semeia ao grão.
24.
O Brasil
te cobra
atuação:
a
tua
ação.
25.
Sou da América,
sou do samba,
sou do tango,
sou da rumba,
sou do mambo.
South America.
Sol da América.
Soul
da América
do Sul.
26.
Assim
cantarolava
meu bom mestre
de latim:
frango, fregi,
fractum, frangere:
fracionar, quebrar, partir.
Desde então
tenho pedido
licença para pensar
que da família
de fractum
vem frater
(ou seja: irmão).
Sendo assim,
se for verdade
(e se não for fica sendo),
entendo:
fra/ter/ni/da/de
tem de ser
com/par/ti/lhar.
De onde também
fica bem
concluir que ser irmão,
ser irmão
é abrir a mão,
par/tir,
re/par/tir o p/ã/o.
27.
Eu menino tinha um mundo,
meu brinquedo de criança,
meu pequeno Xangrilá.
No meu mundo tinha um rio
chamado Bela Joana,
que nascia numa serra
chamada Bela Joana
e escorregava num vale
chamado Bela Joana.
Tinha o pasto, tinha a mata,
tinha a lavoura e o pomar
cheinho de sabiá.
Tinha a casa de farinha
e o moinho de fubá.
Tinha a engenhoca de cana
e o tacho de rapadura
cheiroso como ele só.
Tinha o velho Binditão,
sanfoneiro de oito baixos.
Tinha cipó de saltar
voando que nem Tarzã.
Tinha o terreiro e o paiol
de jogar pique-será.
Tinha o campo do Sô Chico
para jogar futebol.
Tinha o cavalo Brinquinho
para treinar de peão.
Tinha um bode meio louco
para treinar de toureiro.
Tinha as meninas da escola
pra treinar de namorar.
Tinha biju e tapioca
de comer de manhã cedo.
Tinha angu e canjiquinha
de misturar no feijão.
Tinha broa e brevidade
de comer no aniversário.
Tinha chá de erva-cidreira
de curar dor de barriga.
Tinha reza de curar
picada de aranha e cobra.
E tinha azeite com sal
que liquidava sem dó
frieira e bichim-de-pé.
Tinha o sino que tocava
na festa do padroeiro,
chamando o povo todinho
para vir que o padre vinha
rezar missa e ladainha,
casar dengosas mocinhas,
abençoar os doentes
e as crianças batizar.
Tinha o verde esparramado
naquele vale inteirinho.
Tinha a bica de água fria
pingapingando poesia.
Tinha a flor das quaresmeiras
e os lírios brancos do brejo.
Tinha um mundo no meu mundo,
meu brinquedo de criança,
meu pequeno Xangrilá.
28.
Meu neto
me disse um dia:
- Converse comigo, vô,
mas converse como amigo,
mais amigo do que vô.
Desfez-se logo a distância.
Conversamos.
Conversamos.
Conversamos.
Ele na primeira,
eu na terceira infância.
29.
A los
niños,
los
nidos.
30.
Ciranda,
cirandinha,
vamos todos
ser
e andar.
31.
Guarda-chuva,
da chuva guarda
o ninho,
ovinho.
Guarda a chuva
para a uva,
o vinho.
32.
mas
tigo
com
tigo
33.
louve
o leve
enlevo
livre
louve o
love
34.
Olha o céu
cheio de graças
cheio de garças
o céu.
35.
Anoi/
tecia:
a lua luava
sobre o rio
e ria.
36.
Lua
luar.
Lu,
há luar.
37.
lindo
lindo
lindo
o ipê
flor/ri
flor/indo
indo
lindo
rindo
38.
rosas
rezaram
rosaram
rosas
39.
is now
or never
snow
or neve
r
40.
Três andorinhas
horas a fio
no fio
. . .
-------QQQ-------
Sobre o quê
fofocarão?
41.
Ame e beije.
Quem ama beija.
Ama à beça,
y besa.
Bes/ame mucho.
42.
Posso viver
sem ter nada,
porém jamais
sem ter/
nura.
43.
Man man
man
Manuel
(man well)
bam bam
bamba
Bandeira.
44.
Cumpre a abelha
pequenina
tão poético
papel:
terna e alegre
miniusina
que transforma
a flor em mel.
45.
Coisas
da
arte:
não sei
se
vou
amar-te
ou
voo
a Marte.
46.
Voar é o plano:
o ar e o plano,
o aeroplano.
47.
Havia a via,
havia ação,
havia o espaço,
aviação.
48.
Cai,
haicai,
balão.
Traz a luz,
o azul,
põe aqui
na minha
mão.
49.
Receita
contra
fadiga:
ponha
um pouco
de cigarra
no seu
labor
de formiga.
50.
corrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrre a bola
gira e roooooooooooooooooola
ta pé ra
sal de pa p é
qui qui bo
ca re ca re la
no grito do povo:
ooooooollllllllléééééééééééé!!!