quarta-feira, 8 de abril de 2020

Com Verdelírio, no trem


Com Verdelírio, no trem
A. A. de Assis



Meados dos anos 1950. Na estação de Maringá embarquei no último vagão do “Expresso Verde”, uma boa maneira de ir a São Paulo naquela época. Antes mesmo de o trem partir, aproximou-se de mim um rapaz, que perguntou: “Você por acaso é o Assis?”. Respondi que sim, e ele se apresentou: “Meu nome é Verde – Verdelírio Barbosa. Te conheço de nome e de foto. Costumo ler o que você escreve nos jornais”. De imediato me lembrei também do nome dele. Era ainda muito jovem, porém já aparecia de vez em quando assinando textos na imprensa local e iniciava carreira no rádio.
Verde sentou-se numa poltrona a meu lado e a conversa foi longa e animada, cada um esmiuçando a vida do outro. Descobri até que ele, além de apaixonado pelo jornalismo, curtia também compor versinhos – sonetos e trovas. 
A viagem era comprida, cerca de 20 horas até a capital paulista. Havia três opções: vagão de segunda, vagão de primeira e, de Londrina em diante, cabine em carro leito. Parava em um monte de estações: Sarandi, Marialva, Mandaguari, Jandaia, Apucarana, Arapongas, Rolândia, Cambé... Depois de Londrina parava menos. Em Ourinhos costumava trocar a locomotiva.
Para distrair o tempo, os passageiros achavam chique ir ao vagão-restaurante, onde se podia almoçar, jantar, comer um lanche ou simplesmente tomar uma cervejinha. A gente se sentia como se estivesse numa cena de cinema, esperando ver entrar a qualquer momento uma daquelas bonitonas de Hollywood com chapéu enorme e piteira na boca. 
O trem fazia também frequentes paradas nas caixas d’água, para reabastecer a caldeira. Verdelírio comentou: “O comum era ao lado de cada caixa d’água haver uma casa onde morava o responsável pelo serviço. Com o tempo, ali se construíam outras casas e o local virava uma aldeia. Foi por isso que, principalmente no trecho paranaense, se formaram tantas cidades distantes 10 ou 15 quilômetros uma da outra”. 
Dia desses Verde e eu almoçamos juntos no Açukapê e no meio do papo essas lembranças vieram à tona. Éramos os dois, naquele tempo de pioneirismo, bem moços ainda, ele mais moço que eu, começando a labuta na imprensa e no rádio. Trabalhamos juntos em emissoras de rádio e em jornais. Depois ele teve intensa participação em programas de televisão, enquanto eu passei a me dedicar mais ao ensino, como professor em alguns colégios e finalmente na UEM, onde me aposentei. Hoje o Verde é o diretor do “Jornal do Povo” e desfruta de grande e merecidíssimo prestígio, não só em Maringá, mas em todo o Paraná e no Brasil. 
Como o “Jornal do Povo” fica próximo de onde moro, frequentemente nos encontramos e cada encontro é uma nova oportunidade para a troca de abraços. Mais que colegas e velhos amigos, somos antes de tudo irmãos. 

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