segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Frater ou irmão?

 Frater ou irmão?

A. A. de Assis

 

Assim cantarolava / meu bom mestre de latim: / frango, fregi,  fractum, frangere / (fracionar, quebrar, partir). / Desde então tenho pedido / licença para pensar / que é   de fractum que vem frater / (ou em português “irmão”).

     Sendo assim, se for verdade / (e se não for fica sendo), / entendo: fra-ter-ni-da-de / tem de ser com-par-ti-lhar. / De onde também fica bem / concluir que ser irmão / é abrir para o outro a mão, / par-tir, re-par-tir o p-ã-o.

     Pelo uso frequente, é fácil associar “frater” e seus derivados à palavra “irmão” – fraterno, fraternal, fraternidade, frade, frei, freira, confraria etc. O problema começa quando se pergunta por que a palavra latina “frater” chegou ao português como “irmão” (e ao espanhol como “hermano”). Em francês é “frère”, em italiano “fratello”.

     Vamos lá: em algum momento foi corrente no latim a expressão “frater germanus”, com o significado de “irmão verdadeiro”, ou seja, “irmão carnal”, “filho do mesmo pai e da mesma mãe” (da raiz “ger/gen” – gerar, germinar, gene, genealogia). Daí que de germanus temos hermano > ermano > ermão > irmão. 

     E “frater” vem de onde? Procurei, procurei, perguntei, perguntei, porém não ouvi nem li resposta  alguma muito convincente. Então, na falta de prova em contrário, sigo crendo no parentesco de “frater” com fractum, frangere (fracionar, dividir, partir).

     Até porque acho essa uma ideia enobrecedora: “fraternidade” = divisão, compartilhamento; “frater” = aquele que reparte algo com outros. 

     Irmão também é bonito, mas é pouco. Para dois ou dez serem irmãos basta haverem nascido do mesmo pai e/ou da mesma mãe. Mas todos sabemos que isso nem sempre quer dizer partilhamento. Podem ter o mesmo sangue e as mesmas características físicas, sem no entanto se amarem. Muitos são incapazes de repartir sequer um prato de sopa, alguns cultivam forte ciúme, e há os que chegam aos tapas.          

     Fraternidade é um sentimento mais completo, mais sublime. Amor fraterno nem precisa de consanguinidade. Amigos e amigas há que demonstram generosidade bem mais verdadeira do que filhos dos mesmos pais.                                                                                                                                       “Fractum” = fracionar, partilhar. Família fraterna = pais, avós, filhos, netos – um grupo de pessoas que se amam e respeitam, comem a mesma comida, choram juntos, brincam juntos, constroem juntos um lar feliz e juntos ajudam outras pessoas a serem felizes também. Partilham a graça da vida.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 21--01-2021)

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