Seu Silvino
A. A. de Assis
Faz tempo isso. Numa calçada da Avenida Getúlio Vargas encontrei por acaso o amigo Orlando Fernandes Dias, em companhia de um senhor bastante parecido com ele. Apresentou-me: “Este é o meu pai, Seu Silvino”. Que legal, eu disse, de nome já o conhecia. Seu Silvino, o poeta. Orlando sorriu, surpreso. Estava acostumado a ver o pai ser saudado como um dos nossos mais valorosos pioneiros. Mas de repente aparecia um que se manifestava admirador de Seu Silvino como poeta. Que aliás ele de fato era, nas raras horas vagas em que podia distrair-se um pouco da labuta na terra.
Imagine você como foi que um homem de tão líricos sentimentos, portador de um coração cheio de poesia, pôde ter tido peito, disposição e coragem para vir aqui em 1938, se embrenhar na mata e iniciar a roçada na qual iria construir a história de sua linda família.
Não havia nada nesta verde e imensa gleba a não ser a cheirosa floresta. Ele, paulista de Taquaritinga, crescido em Quatá, ouviu maravilhas sobre o eldorado que começava a ser descortinado no norte/noroeste do Paraná. Decidiu vir conferir de perto. De Londrina a Mandaguari veio a cavalo. Entrou no escritório da Companhia Melhoramentos, olhou o mapa, pôs o dedo num lugar pertinho de onde viria a nascer a cidade de Maringá. Sem pestanejar, abriu a bolsa, tirou o talão de cheques, disse ao funcionário que o atendeu: “Pode preparar os papéis”. Comprou um pedação de terras: “Vou formar aqui um belíssimo cafezal”, anunciou. Na volta, mandou de Londrina um telegrama para Dona Helena dando a grande notícia.
Seu Silvino tinha apenas 27 e já era pai. A família cresceu rápido: nove filhos homens, todos nascidos em Quatá. Em Maringá nasceu a caçula, a única menina, Terezinha. Todos gente muito querida. Dois se tornaram políticos importantes, nacionalmente conhecidos e admirados, Álvaro e Osmar Dias.
Homem de fé, Seu Silvino pediu as bênçãos de Deus e mandou ver. Abriu espaço na mata, preparou o terreno, deu inîcio à formação da fazenda. Enquanto o café crescia, plantava roças de milho e feijão e criava porcos e galhinhas. De noite olhava a lua, cantava e escrevia versos.
Penso que a história de todos os nossos outros pioneiros foi também mais ou menos assim. Uma geração de bravos. Homens e mulheres sem medo. Saíram de algum lugar antigo em busca de uma nova Canaã. Só Deus sabe quantos perigos enfrentaram, quantas dificuldades passaram, quantos desafios tiveram que vencer. Porém venceram.
A eles devemos a poderosa Maringá que hoje nos enche de alegria. Que bom que eles tiveram peito e valentia para vir e ficar. Seu Silvino, o poeta. Seu Silvino, “antes de tudo um forte”. Despediu-se da gente em 2006, com 95 anos.
Aí no céu, Seu Silvino, receba o nosso abraço de gratidão, carinho e respeito.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 15-4-2021)
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