sábado, 5 de junho de 2021

Padre Fritz

 Padre Fritz 

A. A. de Assis


Quinta-feira, 27 de outubro de 1994. No Seminário Arquidiocesano, às 15 horas, Padre Fritz celebrou missa para a equipe que iria participar dos trabalhos do 91º Cursilho de Cristandade de Maringá. Por volta das 21h30, ele se sentiu mal. Foi levado às pressas para o hospital por dois dos dirigentes do encontro: Neumar Godoy e Nélson Fiorotto. No trajeto, queixava-se de muita dor e rezava: “Meu Jesus, você está me chamando, por favor espere um pouco. Mãezinha do Céu, me proteja”. No hospital já estava à espera o Dr. Sérgio Doveinis, um dos seus amigos mais fraternos. Logo chegou também Dom Jaime, que lhe ministrou a Unção dos Enfermos e a Indulgência Plenária. Às 22h30, após todos os procedimentos possíveis pelo cardiologista e pela equipe da UTI, Padre Fritz faleceu, vítima de infarto agudo do miocárdio.

    Monsenhor Friederich Josef Karl Gerkens, o nosso inesquecível Fritz, nasceu em Bochum, Alemanha, no dia 28 de fevereiro de 1926, filho de pai luterano e mãe católica. Em 1936, com 10 anos de idade, foi obrigado a se alistar na juventude nazista e a declarar-se ateu. Tinha um sonho: ser ator de teatro. Não foi possível. Pensou então em ser cozinheiro de navio, para poder viajar pelo mundo. Para isso precisou, antes, fazer um curso de confeiteiro. Logo, porém, que recebeu o diploma, foi chamado para a guerra (Segunda Guerra Mundial).

     Mandado para a linha de frente, foi logo feito prisioneiro, junto com outros soldados, e depois levado para trabalhar numa mina de carvão a 800 metros de profundidade. Uma coisa terrível, contava ele. Chegou ao desespero e por algumas vezes pensou em suicídio. Na última vez foi salvo por outro prisioneiro, que lhe disse: “Não desanime, Deus existe”. Palavras decisivas. Fritz reanimou-se. No domingo seguInte outro prisioneiro, padre, conseguiu celebrar missa para os colegas. Durante a celebração o jovem “ateu” sentiu um impulso forte: “Se eu voltar vivo para casa, quero ser um servidor de Deus”.

    Terminada a guerra, ele voltou enfim, livre, para a família. Arranjou um emprego, namorou sério uma bela moça, todavia seu coração já havia decidido: queria mesmo seguir a vida religiosa. Ingressou na Congregação dos Irmãos Enfermeiros da Misericórdia de Maria Auxiliadora, adotando o nome de Irmão Teodósio.

     Chegou ao Brasil no dia de Todos os Santos (1º de novembro) de 1957, para trabalhar como enfermeiro na Santa Casa de Porto Alegre. Em 1960 foi transferido para a Santa Casa de Maringá. Em 1963 contou a Dom Jaime que gostaria de tornar-se padre. No dia 22 de maio de 1971 foi ordenado sacerdote, pelo mesmo Dom Jaime, em sua cidade natal, na Alemanha. No dia 27 de outubro de 1994, Deus chamou Padre Fritz para a eternidade.

     Um homem forte, mas sobretudo um homem bom. Um homem simples, mas sobretudo um homem sábio. Um homem valente, mas sobretudo um homem puro, generoso, superleal. Amava muito o Brasil. Amava muito Maringá. Amava muito o seu sacerdócio. Amava muito a vida. Todos nós o amávamos demais, de todo o coração. Saudade de você, amigo Fritz. Muita.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 03-6-2021)

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