Georges Khouri, um amigão
A. A. de Assis
Como de costume, o baile no Grêmio dos Comerciários começou às 22 horas. Uma hora depois a orquestra do Penha interrompeu de repente a série de boleros e tocou o “Parabéns para você”, enquanto entravam no salão dois garçons trazendo numa bandeja enorme um megabolo. Toninho, o da bateria, fez um repique de tambores. Wilson Silva, o cantor, deu a notícia: “Senhoras e senhores, rapazes e senhoritas, vamos fazer uma pausa para homenagear o grande aniversariante do dia, nosso queridíssimo amigo Georges Anis El Khouri”. Ruidosos aplausos. E o coro: “É pique, é pique, é pique... é pique, é pique, é pique... Georginho!... Georginho!... Georginho!”...
Ele era um dos moços mais badalados da cidade, famoso pela sua elegância e simpatia. Estava completando 20 anos e resolvera comemorar partilhando um bolo com os amigos, com direito a cerveja e guaraná à vontade para a moçada.
Georges Khouri nasceu árabe (20-2-1936), num dos lugares mais importantes do mundo, Jerusalém. Em 1952, com 16 anos, veio com os pais para Maringá, uma das futuras cidades mais bonitas do planeta. Aos 20 anos já era um empresário de grande sucesso, sócio da prestigiada cafeeira Sayão & Cia., cujo principal dirigente era o também jovem executivo Sally Roberto Sayão, então com 25 anos.
Habitualmente bem-vestido, quase sempre trajando um terno de linho branco, era presença marcante em todos os eventos da cidade. Para completar o perfil, casou-se com uma das moças de maior prestígio na sociedade maringaense das primeiras décadas, a professora Nilsa, filha do célebre pioneiro Napoleão Moreira da Silva.
No final dos anos 1970, Georges decidiu mudar de atividade: entrou no ramo imobiliário, fundando a Construtora Corcovado, que a partir de 1983 passou a denominar-se Khouri Imóveis. Sucesso imediato e crescente, com o lançamento de vários edifícios de grande porte e modernos loteamentos.
Porém Georges Khouri não ficou na história de Maringá apenas como grande empresário. Foi também um dos homens mais influentes da política local e estadual, embora sem nunca haver exercido cargo público. Na verdade, de início nem gostava muito de falar de política, visto que tinha numerosos amigos em todos os partidos, mas acabou lidando com política até o final da vida. E conseguiu o que parecia impossível: jamais brigou com ninguém.
Amigo íntimo de José Richa, Sílvio Name e de outros líderes tucanos, Georges foi por muitos anos presidente do PSDB em Maringá. Mas recebia quase que diariamente a visita de gente dos outros partidos. Iam todos lá pedir conselhos, ou simplesmente curtir histórias da história da região.
No dia 7-9-2007, com 71 anos, ele despediu-se. Hoje é nome de uma das ruas da cidade que o acolheu ainda menino. Poderia estar ainda entre nós. Faz muita falta. Um amigo e tanto.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 01-7-2021
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