sexta-feira, 29 de outubro de 2021

IRMÃ SALOMÉ

 IRMÃ SALOMÉ

 

A. A. de Assis

 

Sei quando foi porque tenho cópia de uma crônica que sobre o fato escrevi na época. Foi no início de 1980. O professor José Hiran Sallé quis fazer um teste a respeito das razões que levam os jovens a considerarem alguém uma figura de destaque. Escreveu no quadro a seguinte pergunta: “Quem é a pessoa mais importante de Maringá?”. Surpresa: um dos alunos votou na Irmã Salomé, e explicou em voz alta: “Ela é muito importante porque, se algum dia for embora daqui, vai fazer uma falta enorme”.

          Deu para entender: as pessoas não se tornam importantes pelo que possuem nem pelos seus títulos, mas pelo que de realmente bom oferecem ao próximo no cumprimento de um ideal autêntico. Todos conhecemos a preciosa lição: “O maior entre vocês é aquele que mais serve”. Em outras palavras, foi o que disse o estudante: “Ela é muito importante porque, se algum dia for embora daqui, vai fazer uma falta enorme”.

          E que falta fez a Irmã Salomé! Antes dela, a cidade já conhecera outra santa, a Irmã Vicenza, que por muitos anos dirigira o Albergue Santa Luísa de Marilac. Até hoje quem conviveu com ela sente saudade, tanta saudade quanto a que sente de sua sucessora no posto, a Irmã Salomé. Duas pessoas simplicíssimas, bondade pura, sem nenhuma pose ou pompa, no entanto fizeram história em Maringá na ajuda aos mais carentes dos carentes.

          Tinham ambas uma fé irrestrita na proteção de São José, assim como Santa Dulce dos Pobres se apoiava em Santo Antônio nas horas mais difíceis. “São José resolve tudo”, dizia Irmã Vicenza com aquela simpatia contagiante que Deus lhe dera, e Irmã Salomé dizia o mesmo. Se faltava feijão, era só pedir socorro a São José e logo aparecia um agricultor na porta do Albergue trazendo não só feijão, mas também farinha, arroz e algo mais.

          Irmã Salomé, além de cuidar do Albergue, criou também o Núcleo Social Papa João XXIII, na Vila Vardelina. No início, por volta de 1971-72, havia lá uma pequena favela, que a bondosa vicentina visitava diariamente. Algumas vezes ia com ela Dom Jaime, que resolveu topar a parada junto com a religiosa e transformar aqueles barracos em casinhas melhores, onde as famílias pudessem viver com mais dignidade.

          Dom Jaime foi buscar recursos em Bréscia, Itália, e no coração dos maringaenses de boa vontade. Conseguiu também que a prefeitura doasse um terreno, e assim nasceu o Núcleo Social João XXIII, mais uma bela prova do quanto o amor constrói.

          Os ex-favelados, orientados pela Irmã Salomé (que foi morar lá com eles), receberam aulas de higiene, foram alfabetizados, conseguiram obter documentos, aprenderam a formar hortas, a conviver bem com os vizinhos, enfim mudaram completamente o modo de vida.

          A cidade testemunhava com especial carinho esse trabalho, daí a resposta do menino: “Se algum dia ela for embora daqui, vai fazer uma falta enorme”. Como de fato fez.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 28-10-2021) 

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