quinta-feira, 9 de abril de 2020

A chegada de Dom Jaime


A chegada de Dom Jaime
A. A. de Assis



A multidão começava no antigo aeroporto com pista de terra e se espichava até a praça em frente à velha catedral de madeira. Alguns milhares de pessoas, gente vinda desde as barrancas do Paranazão. Mais as numerosas caravanas originárias de outras regiões do estado, da capital e de cidades do estado de São Paulo. 24 de março de 1957. 
De dentro do pequeno avião desceu um jovem de 40 anos vestindo batina branca. Era o primeiro bispo de Maringá, Dom Jaime Luiz Coelho, que chegava para assumir o governo de sua diocese. Paulista nascido em Franca, vinha de Ribeirão Preto, onde fora pároco da catedral. O prefeito Américo Dias Ferraz recebeu-o com as devidas honras, entregando-lhe a chave do município. Em seguida ele subiu num carro aberto e foi conduzido até o centro, aplaudido pela população ao longo da Avenida Brasil. Num tablado erguido diante da catedral pioneira, Dom Jaime dirigiu-se ao seu rebanho: “Queridos diocesanos...” – foram suas primeiras palavras, que ele repetiu até o final da vida, aos 97 anos. 
Era a primeira vez no mundo que uma cidade com menos de 10 anos ganhava o status de sede de bispado, por decisão do Papa Pio XII. Até então Maringá fazia parte da diocese de Jacarezinho. O território sob a jurisdição canônica de Dom Jaime contava com 15 paróquias e abrangia 24 municípios, numa área total de 13.455km quadrados. Havia apenas 7 padres seculares e 22 religiosos, além de 22 irmãs e 5 irmãos. Com um time tão pequenininho, a primeira preocupação do novo bispo foi a criação de um seminário diocesano. De março a dezembro de 1957, pilotando ele mesmo uma perua Rural Willys, Dom Jaime visitou todas as paróquias e administrou mais de 70 mil crismas. 
Era o bispo certo, no lugar certo, no tempo certo. Um bispo peitudo. Numa região que ainda respirava o aroma da mata recém-aberta, habitada por homens e mulheres vindos das mais diferentes origens, a tarefa de um líder religioso não era moleza. Era preciso ele se misturar com as famílias pioneiras e junto com elas enfrentar o desafio de construir um mundo novo. Dom Jaime arregaçou as mangas e fez da Igreja em Maringá um dos fatores decisivos do rápido desenvolvimento deste rincão prodigioso. 
Graças ao seu poder de liderança, Dom Jaime conseguiu o apoio da comunidade para em pouco tempo dotar a cidade de instituições fundamentais, como a Santa Casa, o Colégio Santa Cruz, o Colégio Marista, o Albergue Santa Luísa de Marilac, além da Catedral Basílica de Nossa Senhora da Glória, que passou a ser o nosso monumento-símbolo. 
Porém sua ação não se limitou ao âmbito da Igreja Católica. Basta lembrar, entre tantas outras realizações, a atuação do nosso primeiro bispo na criação do primeiro curso superior de Maringá, a Faculdade Estadual de Ciências Econômicas, ponto de partida para a criação da Universidade Estadual de Maringá.

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