segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Os bem-te-vis de Maringá

 Os bem-te-vis de Maringá

 

A. A. de Assis


Bem-te-vi que bem-me-vês, bem-visto sejas também, hoje e sempre e toda vez que bem-me-vires. Amém. –- Na minha rua habitam muitos e fico todo prosa quando um deles me acorda cantando em frente à janela. Ele diz: “Bem-te-vi... Bem-te-vi...”. Respondo: “Obrigado, igualmente”.

     Primeiro, porém, quero falar do Brandespim. Aristeu Brandespim, um personagem realmente singular, a quem Maringá até hoje não tributou o merecido reconhecimento.

          Mineiro de São Sebastião do Paraíso, gordo e invariavelmente bem-humorado, no início dos anos 1950 era bancário em São Paulo. Num certo dia leu uma entrevista do Dr. Hermann Moraes de Barros falando maravilhas sobre o norte do Paraná. Dias após atendeu no banco um jovem empresário chamado Alfredo Maluf. Conversa-vai, conversa-vem, Maluf gostou do rapaz, ficou sabendo que ele era contador, e de bate-pronto fez a proposta: “Quer trabalhar comigo? Tenho um posto de combustíveis em Maringá”. Aristeu nem pestanejou: “Quero”. Veio de mala e cuia na semana seguinte. Durante alguns anos fez a escrita do Posto Santo Antônio, tendo entre os colegas outro contabilista ilustre – Farid Cury, que mais tarde se tornou sócio de Alcides Parizotto no Atacadão.

     Em 1957 resolveu mudar o rumo da vida: ingressou no jornalismo, uma antiga paixão sua. Criou e dirigiu até o final dos anos 1970 a primeira revista da cidade, “Maringá Ilustrada”, que já no segundo número passou a chamar-se “Novo Paraná”, a famosa “NP”.

     Aristeu tinha umas coisas muito características. Por exemplo: a capacidade de perceber o que em geral as pessoas comuns não percebiam. Numa manhã de sol, caminhando juntos, ao atravessarmos a praça Napoleão Moreira da Silva ele parou de repente, segurou meu braço, olhou para cima e disse: “Maringá é realmente uma cidade hospitaleira. Em qualquer praça ou rua onde você esteja, escuta a saudação – Bem-te-vi... bem-te-vi...”

    “É mesmo, cara... e eu nunca havia pensado nisso” – comentei. Ele riu: “Esses bichinhos simpáticos estão em todas as nossas árvores dando as boas-vindas aos chegantes. Me lembro bem de que no dia em que aqui desembarquei um dos primeiros sons que ouvi foi esse – Bem-te-vi... bem-te-vi... Existe recepção mais generosa?... Quem quer que venha a Maringá se sente de imediato bem-visto. É como se alguém dissesse: – Entre, a casa é sua...”

     Deve ter sido assim na chegada das primeiras famílias. Cada vez que encostava um caminhão de mudança apareciam logo os vizinhos oferecendo ajuda. Ninguém nem perguntava a ninguém de onde vinha. Todos sabiam que para sair do chão natal e se embrenhar no desconhecido era preciso ter muita coragem e as melhores intenções. Só gente muito raçuda e boa faria algo assim. Por isso é que eram todos tão bem-vindos.

     Sempre ao som do bem-te-vi... bem-te-vi... bem-te-vi...

     Pois é, Brandespim. Poderia até, quem sabe, algum dia algum vereador propor uma lei oficializando o bem-te-vi como símbolo da hospitalidade maringaense.

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Crônica publicada no Jornal do Povo – 29-10-2020

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