sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

JG e Maringá

                                                   JG e Maringá

 

A. A. de Assis

 

Houve tempo em que os bons poetas conseguiam status de celebridades no Brasil, quase tanto quanto os mais famosos atores, cantores e atletas. Gonçalves Dias, Castro Alves, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles e mais alguns são lembrados ainda hoje, porém como gente do passado. Os dois últimos bastante conhecidos em todo o país foram Mário Quintana e Manoel de Barros.

     Nenhum deles alcançou, no entanto, um nível de popularidade semelhante ao de JG de Araújo Jorge, que aliás nem aparecia nos manuais de literatura adotados pelas escolas. Porém seus versos eram publicados em todos os jornais e revistas, o que lhe garantia uma multidão de leitores. Com isso, enquanto os autores mais ilustrados vendiam no máximo 5 mil exemplares dos seus livros, JG vendia mais de 50 mil. Foi o único dos nossos escritores a fazer alguma fortuna vendendo poesia. Tinha até um programa semanal na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que dava o maior ibope.

     Toda a geração que viveu entre os anos 1940 e 1970 lia e curtia os versos do chamado “poeta das moças”. Os críticos em geral nutriam preconceito conta ele, mas nada disso abalava seu prestígio. Escrevia para o povo, especialmente para o público jovem. Sonetos, poemas livres, trovas, sempre numa linguagem simples, que todo mundo entendia. Daí o sucesso.

     Em três ocasiões JG de Araújo Jorge esteve em Maringá – 1966, 1970 e 1972. Na primeira vez, veio como atração principal num grupo de cerca de 50 outros poetas, para um dos maiores eventos literários já realizados na cidade. O então prefeito Luiz de Carvalho, que também gostava de poesia, mandou armar um coreto em frente à antiga biblioteca e ali se reuniram milhares de pessoas para ouvir os menestréis. Foi um “comício de poesia”, disseram.

     Em 1972, JG conheceu aqui o professor Renato Bernardes, que na época era o vice-prefeito e secretário da Educação e Cultura, no governo do prefeito Adriano Valente. Alguns anos mais tarde Renato se elegeu deputado federal. Em Brasília ele reencontrou JG, que havia sido eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro. O poeta conseguira transformar seus leitores em eleitores e assim, sem gastar praticamente nada, obteve uma votação enorme.

     Numa determinada ocasião, Renato Bernardes andava labutando para conseguir a liberação de um recurso importante para Maringá. Precisava convencer o ministro responsável pela verba a apressar a tramitação do processo. Contou isso ao colega deputado JG, que de pronto se dispôs a ajudar. Foram os dois juntos ao gabinete do ministro, que por acaso ou por sorte era fã do poeta. A assinatura do documento saiu na hora, seguida do convite para um cafezinho em meio a uma roda de funcionários que vieram pedir o autógrafo do famoso homem de letras. Em resumo: o carinho que JG de Araújo Jorge dedicava a Maringá, mais a amizade com o Renato, renderam bons proveitos para o município. Viva a poesia!

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 25-02-2121)

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