quinta-feira, 11 de março de 2021

Como é o céu?

 Como é o céu?

 

A. A. de Assis

 

Para quem não crê na eternidade da alma, ao fim do último suspiro a história acaba, e ponto. Segundo, porém, as estatísticas, mais de noventa por cento das pessoas acreditam que a vida prossegue após a despedida do corpo. Eu acredito.

     A questão é saber para onde vamos, e como. Cada qual dá um nome: paraíso, glória, infinito, casa do Pai, reino de Deus. Para a maioria, no entanto, pelo menos na cultura ocidental, o nome mais frequente é céu mesmo. Mas como é o céu?

     Difícil achar alguém que em algum momento não tenha dado uma paradinha para pensar nisso. A ideia que geralmente se tem é de que o derradeiro minuto de nossa estada neste planetinha tenha como sequência o imediato ou quase imediato ingresso na vida eterna. Cessam as batidas do coração, começam os voos da alma.

     Simples assim? Ou haverá uma triagem para selecionar quem vai para onde?

      Cá comigo, penso que a população do céu seja imensa. Do jeito que Deus é bom, sempre dará um jeitinho de abrir as portas do paraíso para o máximo de almas. A gente é que tem mania de condenar. A alegria de Deus é perdoar.

     Sim, mas por que o céu se chama céu? Em latim céu é “coelum”, que originalmente significava “brilhante” e depois passou a significar “posição superior”, “localização em cima”. Da mesma família é “excelso” (“Gloria in excelsis Deo” – Glória a Deus nas alturas). O oposto é “inferno” (“infernus”), que significa “inferior”. Se interno é o que está inter (dentro) e externo é o que está exter (fora), inferno é o que está infer (abaixo).

     Assim, ir para o “infernus” significaria inferiorizar-se, sofrer um rebaixamento, uma degradação; enquanto ir para o “coelum” (céu) corresponderia a ganhar uma promoção – a plena e eterna alegria, a felicidade máxima. Não se trata, portanto, de ir para um determinado lugar no sentido físico. A alma é imaterial.

     “Ir para o inferno” – imagino então – seria morrer em estado de profunda tristeza, sentindo a alma pesada, o coração cheio de culpa, a consciência ardendo de medo e remorso, com o risco de passar toda a eternidade em permanente angústia. Almas amarguradas, sofridas, que precisam de muitas orações. Só a misericórdia de Deus pode curá-las, mediante o perdão.

     “Ir para o céu”, por sua vez, seria morrer com a alma limpa, levinha, o coração sereno, a consciência em paz, e assim alcançar uma qualidade superior de existência, angelizar-se, passando a viver, espiritualmente, em estado de graça, na plenitude do amor. 

     Ninguém sabe quem receberá tal bênção. Só Deus sabe. Porém acredito e repito: Deus é generoso demais e certamente levará para junto dele uma multidão de filhos e filhas.   

     Pode ser que nem todos os eleitos, ao serem chamados, já estejam tão puros de coração a ponto de entrar diretamente no céu; muitos terão talvez de cumprir algum estágio intermediário. Mas a fé é forte e a esperança é enorme.

     Quem sabe a gente um dia se encontre lá?...

(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 11-3-2021)

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