quinta-feira, 14 de maio de 2020

Joubert de Carvalho


Joubert de Carvalho
A. A. de Assis
     
Um jornalista de São Paulo, amigo do Aristeu Brandespim (diretor da revista NP), de passagem por Maringá, almoçou conosco e a certa altura indagou: “Onde fica a Rua Joubert de Carvalho? Eu gostaria de fotografá-la”. A pergunta nos deixou surpresos, por dois motivos: primeiro porque não existia aqui nenhuma rua com esse nome; segundo porque de repente nos demos conta do absurdo que era a Câmara Municipal até então não haver prestado tal homenagem ao célebre autor da bela canção xará da cidade. Respondi ao jornalista: “Por enquanto não temos a rua que você procura, mas volte a Maringá no próximo ano, que a teremos”. Brandespim acrescentou: “Assino embaixo. Vamos providenciar”.
Na edição seguinte da revista NP, setembro de 1958, saiu na última página o artigo em que reivindiquei da Câmara a criação da Rua Joubert de Carvalho. Nem precisava gastar muitos argumentos, porque a justificativa era óbvia. Manuel Tavares, n’A Tribuna de Maringá, e Ivens Lagoano Pacheco, no O Jornal, deram total apoio. O vereador Alceu Hauare apresentou o projeto, a aprovação foi unânime, e o prefeito Américo sancionou com as honras devidas.
No dia 21 de abril de 1959, pousou no Aeroporto Gastão Vidigal o avião que trouxe Joubert pela primeira vez a Maringá. Com a presença das personalidades mais representativas da cidade e um grande número de admiradores do famoso compositor, descerrou-se na esquina da antiga Rua Bandeirantes com a Avenida Duque de Caxias, no prédio da Companhia Melhoramentos, a placa de bronze com a indicação: Rua Joubert de Carvalho. Banda, rojões, discursos, aplausos, e aquela multidão cantando em coro: “Maringá, Maringá, / para haver felicidade / é preciso que a saudade / vá bater noutro lugá...”
Várias outras vezes Joubert de Carvalho visitou Maringá. Numa delas para a inauguração do seu busto na praça Raposo Tavares, em frente à antiga estação rodoviária. A história é interessante. No início de 1972, Brandespim e eu estávamos no Rio de Janeiro, telefonamos para Joubert e ele nos convidou para um lanche em seu apartamento, na Rua Paula Freitas, Copacabana. Numa sala onde o compositor tinha seu piano, vimos um busto dele, de bronze, presente de um escultor amigo. Sem pestanejar, sentenciei, em coro com o Brandespim: “Esta bela peça não pode ficar escondida aqui; o lugar dela é numa praça pública em Maringá”.
Joubert sorriu e comentou: “Já até pensei nisso, mas não posso dar uma de oferecido. Se algum dia receber um pedido oficial do prefeito de Maringá, tudo bem”. Pois então, tudo bem. Voltando para casa, procuramos o prefeito Adriano Valente, contamos a história, Adriano achou a ideia ótima e de imediato mandou datilografar o ofício solicitando ao grande músico que doasse o busto à cidade e que aqui viesse para a inauguração. Foi outro momento inesquecível. Com o tempo, a praça foi ficando feia, mas o busto de Joubert continua lá, à espera de que naquele espaço se construa algo à sua altura.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 14-5-2020)
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