sexta-feira, 8 de maio de 2020

O tesouro de Maringá
A. A. de Assis  


O tesouro maior de uma cidade são as famílias que nela se formaram. Gosto dessa frase, não sei se minha ou se ouvida alhures. Gosto e assino embaixo.
Ele paulista, ela mineira. Chegaram aqui ainda meninos, no início da década de 1940. Conheceram-se num baile do Aero Clube. Namoraram, casaram, multiplicaram. Nasceram-lhes seis rapazes e quatro moças, logo vieram seis noras e quatro genros. Depois os netos, bisnetos. Na festa das bodas de diamante do casal pioneiro (60 anos de amor e solidariedade), o clã já reunia mais de cem pessoas.
Que família é essa? Tantas, parecidas todas. Basta pegar uma lista de telefones. Qualquer um daqueles sobrenomes daria uma bela história dentro da bonita história de Maringá.
O velho casal está entre nós ainda, recordando momentos marcantes. A inauguração da cidade no dia 10 de maio de 1947. A eleição do primeiro prefeito. A posse da primeira Câmara de Vereadores. As primeiras escolas. A chegada do primeiro avião, do primeiro ônibus, do primeiro trem. Os primeiros cinemas. Os primeiros desfiles cívicos. Os primeiros comícios. Os primeiros clubes. As primeiras grandes lojas. Os primeiros padres e pastores. Os primeiros doutores: médicos, dentistas, engenheiros, advogados, agrônomos. Os primeiros professores. O primeiro juiz. O primeiro promotor. Os primeiros bancos. Os primeiros jornais. As primeiras emissoras de rádio. A primeira emissora de televisão. A chegada do primeiro bispo. O primeiro Festival de Cinema. A inauguração da Catedral. A primeira faculdade, a universidade.
No início era pouco mais que uma aldeia, uma pequena comunidade em que todos se conheciam. As casinhas de madeira. As noites mal iluminadas. Ruas esburacadas. Homens calçados de botas, mulheres calçadas de galochas, para enfrentar o barro nos dias de chuva. Janelas fechadas nos dias de sol para abrandar a invasão da poeira. O passa-passa de jipes com as rodas acorrentadas, caminhões carregados de toras ou de sacas de café. A banda de música. O jipe 28. O Clube do Caçula. As matinês dançantes no Grande Hotel. Os piqueniques no horto florestal. O sorvete na Oriental. O aperitivo no Bar Colúmbia.
Aos poucos a cidade foi crescendo para o alto e para todos os lados, transformando-se num enorme aglomerado em que ninguém mais sabe quem é quem. Mais de 400 mil, quase 500 mil maringaenses, fora os vizinhos que diariamente aqui circulam.
Mas nas reuniões de família os elos permanecem. Cada clã é uma rosa, cada parente uma pétala. O maior tesouro de Maringá. Bonito isso.
Não faz muito tempo estive no jantar de aniversário de um amigo pioneiro. Quando o conheci, em 1955, eram só ele e os irmãos menores. Agora a seu redor está um grupão unido e lindo, desde os de cabelos brancos até a meninada de colo.
Poeta chora à toa. Chorei.

===============================================
(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 07-5-2020)
===============================================

Nenhum comentário: