sexta-feira, 24 de julho de 2020

JP, Granado e Schiavone

JP, Granado e Schiavone

A. A. de Assis

Se a gente juntasse alguns dos muitos casos engraçados ocorridos na história desta cidade, daria um livro delicioso. Outro dia, num papo com um pessoal meio da saudade, conversa-vai, conversa-vem, veio à lembrança um fato que vou recontar pra vocês, pedindo desculpas antecipadas aos três ilustres personagens da cena, dois deles em memória.
João Paulino estava mais ou menos na metade do seu primeiro mandato de prefeito – 1962, se me não engano. Na época, Ademar Schiavone era diretor administrativo e colunista social do “O Jornal de Maringá”, então comandado pelo velho e bom jornalista Ivens Lagoano Pacheco. Mas Schiavone era um colunista social guerreiro: além de fofoquear a vida dos clubes e as festas da cidade, gostava de falar também de política. Arrumou brigas históricas com os vereadores e muitas vezes irritou João Paulino com críticas azedas. Além disso, o “O Jornal” era costumeiramente provocador.
A prefeitura era onde depois funcionou a biblioteca pública, na esquina da Getúlio Vargas com a 15 de Novembro. De repente um funcionário entrou no gabinete do prefeito informando que “um jornalista desaforado havia subido com o carro no jardim em frente ao correio”, portanto a poucos metros do paço municipal. JP quis saber quem era o tal jornalista. Responderam que era um colunista social. O prefeito pensou logo no Schiavone, enrubesceu o rosto e ordenou: “Mandem prender o carro dele... agora”.
Deu o maior auê na praça. “Não foi por querer, foi um acidente, foi a direção que quebrou... Que negócio é esse de prender o carro?” – protestou o jornalista. Mas os guardas não quiseram saber de desculpas e levaram o Gordini para o Trânsito, com ameaça de levar também o dono, se ele não sossegasse.
Gordini?... Mas o Schiavone não tem Gordini; o carro dele é um fusquinha. Então deve ter havido um baita engano. João Paulino, já de bom humor, disse que queria apenas dar um susto no Schiavone, que vivia pegando no pé dele com artigos irreverentes. Mas... e se o dono fosse outro? Que jornalista tinha Gordini em Maringá?
Era o Pedro Granado, também na época prestigiado colunista social, da “Tribuna de Maringá” (do saudoso Manoel Tavares). Granado não tinha nada a ver com as broncas do Schiavone; ele aliás nem falava de política, estava pagando o pato inocentemente. Dera um problema na direção do veículo e ele realmente subiu no jardim, mas sem querer. E agora?
Agora quem estava mais chateado com o engano era o prefeito. Telefonou para o Trânsito e pediu que liberassem o Gordini. Em seguida telefonou para o Granado, explicou o mal-entendido e ambos acabaram dando boas risadas.
E o Schiavone? Deu também uma gargalhada. Anos depois virou amigão do João Paulino, que até o convocou para trabalhar na administração municipal como secretário.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 23-7-2020)

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