sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Germani, um sábio

 Germani, um sábio

 

A. A. de Assis


Quase um século de heroísmo, talento, generosidade. Belíssima história inserida na fascinante história do Sul – Rio Grande, Santa Catarina, Paraná.

     Conheci Emílio Germani em 1955, logo que cheguei a Maringá. Ele já era um vitorioso empresário, um dos mais respeitados pioneiros da cidade. Participante ativo de todas as entidades já aqui existentes, entre as quais a Santa Casa, a Associação Comercial, o Rotary Club – o rotariano mais rotariano que até hoje conheci. E ainda achava tempo e fôlego para escrever ótimos artigos para os nossos primeiros jornais e revistas.

     Catarinense nascido no dia 22 de junho de 1917 em Capinzal, em 1950 Germani residia em Videira, após haver  morado durante algum tempo em Caxias do Sul. Em Videira ele era já um homem importante, exercendo alta função  na empresa Ponzoni Brandalise, que mais tarde se tornaria a Perdigão.

     Deu-se, porém, o inesperado: numa noite de chuva, ao atravessar de jipe a linha férrea, foi atropelado por um trem, o que o obrigou a ficar 40 dias no hospital. Ao receber alta, pediu mais 10 dias de licença e aproveitou para vir conhecer o norte do Paraná, eldorado do qual muito se falava na época. Maringá estava novinha ainda, nem município era. Ele chegou aqui exatamente no dia 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Glória, futura padroeira da cidade.

     Ao passar em frente ao escritório da Companhia Melhoramentos, Germani viu um montão de gente entrando e saindo. Entrou, foi conversar com um dos corretores. Resultado: comprou um terreno na Avenida Mauá, uma chácara nos arredores e alugou um salão na Avenida Paraná. Voltou a Videira levando a surpresa, contou a aventura para Dona Elza e no dia seguinte apresentou aviso prévio à firma onde trabalhava.

     Dois meses após já estava em Maringá de mala e cuia, em companhia do seu irmão Guido. Montaram primeiro um escritório de representações, depois uma fábrica de camas, depois uma cafeeira, e alguns anos mais tarde entraram no ramo do milho. Logo cresceram e se tornaram grandes industriais, com prestígio internacional. Uma história de gente forte, parecida com a de tantos outros peitudos que ajudaram a construir esta pujante cidade.

     Mas o que eu queria mesmo dizer era que para mim foi uma bênção haver conhecido Emílio Germani e ter com ele convido durante muitos anos nas reuniões de Rotary, na Academia de Letras de Maringá e em muitos e inesquecíveis encontros nas redações de jornais e revistas.  

     Gostava demais de conversar com ele, ouvir suas histórias, aprender com ele tantas e tão preciosas lições de vida. Germani era um sábio, um homem bom, um modelo de cidadania. Um ser humano realmente fora do comum.

     Autor de três ótimos livros – “Encruzilhadas”, “Fragmentos Históricos do Distrito 4630” e “Retalhos da Vida”, além de centenas de artigos, poemas e crônicas. Despediu-se no dia 2 de junho de 2010, com 93 anos. Deixou uma bela família – 11 filhos, 25 netos, 11 bisnetos.

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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 28--01-2021)

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