sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Doutor Said

 Doutor Said

A. A. de Assis

Nascido paulista em 1933 na cidade de Dois Córregos, Said Felício Ferreira formou-se em medicina na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Em 1957 veio para Atalaia, cidade vizinha nossa, e ali instalou sua primeira clínica. Dois anos após mudou para Maringá.

     Em 1972 o Doutor Said já havia sido médico do Grêmio, presidente da Sociedade Médica de Maringá, vice-presidente da Associação Médica do Paraná, fundador de uma escola de enfermagem, e era dono de um dos melhores hospitais da cidade e sócio de uma maternidade em Curitiba, além de empresário e agropecuarista. Enfim um homem plenamente realizado.

     Até que um dia recebeu convite para participar de um encontro de reflexão, durante o qual sentiu forte sacudidela, redespertando sentimentos que fazia tempo estavam meio adormecidos, Voltou para casa com a chama acesa, disposto a mudar o rumo da vida: iria aos poucos diminuir as atividades profissionais e dedicar mais tempo à prestação de serviços voluntários. Maringá lhe dera tudo o ele sonhara; agora seria a hora de retribuir.

     Não pensava ainda em concorrer a nenhum cargo público. Mas passou a colaborar em diversos trabalhos comunitários, ao mesmo tempo em que reservava algumas horas por dia para o estudo de problemas políticos, sociais e econômicos. Fez também alguns cursos sobre temas sociológicos. Enquanto isso, foi aos poucos crescendo nele um irresistível impulso para colocar em prática as suas ideias,

     Concluiu, porém, que isso só seria possível se ele entrasse na política. Teria que, por exemplo, candidatar-se a prefeito, disputar uma eleição e conseguir ser eleito. Pensou bem, consultou amigos, topou levar o projeto adiante. O mais difícil foi convencer Dona Irma a liberá-lo para enfrentar o novo desafio. Porém valente, e igualmente movida por forte sensibilidade social, ela acabou concordando e entrou com ele na batalha.

     Said havia tido alguma experiência política na juventude, quando participou de lutas estudantis em Curitiba junto com José Richa e outros. Tinha sido até um dos diretores da Casa do Estudante. Mas não levava muito jeito para lidar com políticos tarimbados, discursar em comícios, enfim conviver com as artes e engenhos de uma campanha eleitoral. Assim mesmo, em 1976, resolveu candidatar-se a prefeito. Não venceu, mas teve uma votação animadora, aprendeu muita coisa, saiu da peleja pronto para voltar a competir no pleito seguinte.

     E aí, sim, fez uma campanha para valer, empolgou o eleitorado, ganhou bonito. Foi duas vezes prefeito e uma vez deputado federal. Realizou excelente trabalho. Fez história como um dos mais competentes e mais produtivos homens públicos que a cidade já conheceu.

      Poderia ter sido apenas um grande e querido médico e um empresário de sucesso. Poderia também ter entrado num navio de luxo com toda a sua linda família e percorrido os lugares mais bonitos do mundo. Preferiu renunciar a tudo isso para ser um servidor da comunidade. Mas decerto valeu a pena. Ele entrara na política por achar que seria essa a melhor maneira de ajudar Maringá. Ajudou muito. Ficou no coração do povo.

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Crônica publicada no Jornal do Povo – 15-10-2020

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